Apresentação
A essência dos processos coordenados pelo Paneiro Luminoso segue um percurso transversal e interdisciplinar na abordagem do conhecimento, que é construído no contato com a natureza, onde e como elas se apresentam. A intenção é provocar o entendimento a partir do exercício de perceber o íntimo das coisas da relação humana e do processo de criação, sejam elas de ordem material ou sentimental.
As oficinas estão alinhadas à Pedagogia da Luz, quando o caminho traçado é um estímulo a se enxergar o mais existencial e mais estético, quando se pensa a educação a partir da relação da experiência.
O Paneiro Luminoso propôs o uso de um conjunto de técnicas junto a escolas, comunidades e organizações de acordo com estes princípios e, portanto, conforme a realidade de cada uma. As técnicas são entendidas em sua ampla possibilidade de serem reformuladas no decorrer do processo, a partir do contexto encontrado ao momento da realização das atividades.
É condição fundamental, na perspectiva do projeto, a facilidade no acesso de materiais, ferramentas e recursos necessários para a adoção da técnica sugerida. E o mesmo se dá em relação ao passo-a-passo, que deve, por si mesmo, se entendido como parte dos resultados pedagógicos esperados.
Aplicamos, ao menos, 18 técnicas, e apontamos suas respectivas orientações pedagógicas.
TÉCNICAS
I - Zine
O zine é adotado, neste processo, como dispositivo de registro e leitura crítica de processos. Ele é um tipo de caderneta artesanal que pode facilitar e estimular a organização e sistematização do que se produz no curso de qualquer atividade e serve como memória e narrativa do processo, facilitando a leitura do que constitui o processo. O conteúdo dos zines podem ser temáticos ou criações literárias. E o zine em si pode ser reproduzido, gerando um número ilimitado de cópias.
Orientações pedagógicas:
A atividade sensório-motor pode ser realizada com público diverso a partir dos 4 anos de idade, pois favorece o desenvolvimento psicomotor, a interação, a concentração e as habilidades da coordenação motora fina, movimenta parte do corpo, exprimindo emoções. Indicado para o trabalho inter e transdisciplinar: Arte, Geografia, História, Ciências, Matemática, Língua Portuguesa, Biologia.
II - Sonhos e sementes
Esta dinâmica pode ser conduzida usando sementes reais ou imaginadas. O objetivo é ativar a conexão entre os sentidos, a imaginação e o sensível e, a partir disso, propiciar a leitura e reflexão crítica acerca de um largo espectro de temas que podem aflorar dessa vivência
A estratégia de condução da dinâmica deve levar em grande conta o perfil do público-contexto e o tempo disponível para o desenvolvimento da atividade, bem como aos objetivos definidos pelo projeto ou programa na qual se insira.
Orientações pedagógicas:
Atividade sensorial inclusiva indicada para as faixas etárias a partir dos 3 anos de idade, explora o desenvolvimento corporal no espaço e as habilidades táteis e olfato, respeita e expressa sentimentos e emoções, conhece e identifica o território e o bioma que está inserida, desenvolve a imaginação e a realidade cotidiana do bioma que habita. Desenvolve a coordenação motora grossa e fina, analisa criticamente o meio em que vive. Indicado para o trabalho interdisciplinar: Arte, Geografia, Ciências, Língua Portuguesa, História, Biologia e a atividade em grupo.
III - Memória, imagem e identidade
Dinâmica que, ao propiciar a ativação, revelação e compartilhamento de memórias, potencializa a apresentação e integração de participantes com vistas a uma vivência imersiva. Ela pode funcionar tanto entre grupos desconhecidos quanto com pessoas que já se conhecem para fortalecimento de vínculo. Além disso, abre uma janela para abordagens de questões que conectam a palavra, a imagem e o pensamento.
Orientações pedagógicas:
A partir dos 6 anos de idade, identifica e aprecia formas distintas do território, cultivando a percepção, o imaginário, a capacidade de simbolizar e o repertório imagético. Explorar e reconhecer elementos constitutivos das artes visuais (ponto, linha, forma, cor, espaço, movimento). Desenvolve as habilidades sensoriais especialmente tato e audição, atividade inclusiva que pode ser aplicada de forma interdisciplinar na área da linguagem em especial nas disciplinas de Língua Portuguesa, Ciências, Física, Artes e Geografia.
IV - Imagem - câmera obscura pinhole
Trata-se da construção, passo a passo, de uma de câmera obscura com uma folha de papel cartão, papel vegetal, alumínio, cola e espinho.
Esta atividade propicia o exercício do olhar para as coisas com maior atenção e profundidade, o uso do corpo como ferramenta e a revelação da gênese do processo da imagem [estado pré-fotográfico]. Propicia abordagem do processo, da ciência, das artes, a comunicação visual etc. dos espaços-tempos da luz.
Orientações pedagógicas:
A atividade pode ser desenvolvida a partir dos 5 anos de idade com qualquer faixa etária. O educando experimenta a criação em artes visuais de modo individual, coletivo e colaborativo, explorando diferentes espaços da escola e da comunidade. Contribui para aguçar e dialogar sobre a sua criação e as dos colegas, para alcançar sentidos plurais. Experimentar diferentes formas de orientação no espaço (deslocamentos, planos, direções, caminhos etc.), contribui para mapear objetos e espécies nativas. Desenvolve a coordenação motora grossa e fina, analisa criticamente o meio em que vive. Indicado para o trabalho interdisciplinar: Arte, Geografia, Ciências, Língua Portuguesa, História, Biologia, Física e Matemática.
V – Cartão-olho
O cartão-olho, construído com um pedaço de papel cartão, com um orifício circular ao centro, é um dispositivo utilizado inicialmente na dinâmica “Olho no olho”, a linha do olhar e, em seguida, como peça de fixação e acoplamento da lente na câmera obscura.
Orientações pedagógicas:
A atividade pode ser desenvolvida a partir dos 5 anos de idade com qualquer faixa etária. O educando vai experimentar a criação em artes visuais de modo individual, coletivo e colaborativo, explorando diferentes espaços da escola e da comunidade. Contribui para aguçar e dialogar sobre a sua criação e as dos colegas, para alcançar sentidos plurais. Experimentar diferentes formas de orientação no espaço (deslocamentos, planos, direções, caminhos etc.) colabora para se desenvolver a coordenação motora grossa e fina e analisar criticamente o meio em que vive. Indicado para o trabalho interdisciplinar: Arte, Geografia, Ciências, Língua Portuguesa, História, Biologia, Física e Matemática.
VI - Olho no olho ou “A linha do olhar”
Esta dinâmica é realizada utilizando o cartão-olho e busca responder uma questão recorrente: por que a imagem visualizada na câmera obscura aparece invertida? Baseia-se no fato de que a trajetória dos raios luminosos, portadores do que constitui a imagem, é retilínea.
Orientações pedagógicas:
A atividade pode ser realizada com qualquer faixa etária a partir dos 4 anos de idade. Estimula a coordenação motora fina e o movimento corporal, a lateralidade e a espacialidade. Dialoga com princípios conceituais, proposições temáticas, repertórios imagéticos, processos de criação e produções visuais. Pode ser desenvolvida em trabalhos interdisciplinares de Artes, Educação Física e, em especial, a cultura corporal e as ciências naturais.
VII - A teia dos raios de luz
Esta dinâmica opera com a luz na esfera física, dual e na dimensão simbólica, subjetiva apontando para o entendimento do que constitui a gênese das imagens, na busca de explicar como a luz-imagem se revela aos nossos olhos no ambiente de uma câmera obscura. Sugere uma imersão no tempo-espaço da luz, matéria e símbolo.
Orientações pedagógicas:
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VIII - Câmera obscura com dispositivo óptico
Trata-se da continuidade da Câmera Obscura Pinhole [Atividade III] com apresentação e introdução de elemento óptico [lupa]. Esta atividade aborda conhecimentos sobre a refração da luz [física ótica], plano focal, foco, profundidade de campo, enquadramento, composição e outros conhecimentos, como a ciência, a história das artes, sistema de percepção visual, características e propriedades da luz, espaços e tempos da luz, astronomia etc.
Orientações pedagógicas:
A atividade pode ser aplicada em todas as faixas etárias a partir dos 5 anos de idade. Tem o potencial de explorar elementos constitutivos do movimento cotidiano e do movimento da luz, abordando, criticamente, o desenvolvimento das formas e construção da imagem. Pode ser trabalhada de forma interdisciplinar com arte, física, matemática e ciências naturais.
IX - Janela de enquadramento
Dinâmica que aborda, de forma prática, alguns elementos da linguagem fotográfica e propicia exercícios do “olhar fotográfico” ativados por experimentos de enquadramento, composição, distância, ponto de vista, escala, perspectiva, ângulo, recorte espacial e temporal e capturas mentais de imagens, os “clicks mentais”.
Orientações pedagógicas:
A atividade poder ser realizada com todas as faixas etárias, com material inclusivo e sustentável. Explora elementos constitutivos do movimento cotidiano e territorial. Pode ser realizada para reconhecimento e conhecimento dos patrimônios, das paisagens e dos desafios diante das injustiças sociais. Indicado para o trabalho interdisciplinar com as disciplinas de geografia, arte, ciências naturais e linguagem.
X - Click mental
A Janela de Enquadramento e/ou a Câmera Obscura com Lente estimula o exercício do olhar fotográfico no sentido de promover o protagonismo na construção de processos educativos. Trata-se de provocar e apurar a prática de registro mental de imagens cujo sentido se relacione com um tema-desafio definido a priori. Nesse sentido, essas imagens registradas como desenho se oferecem a múltiplas leituras, seja no plano objetivo seja no plano subjetivo.
Orientações pedagógicas:
A atividade pode ser realizada com qualquer faixa etária, ajudando no desenvolvimento da memorização, observação e linguagem. É indicada para o trabalho interdisciplinar na área da linguagem, geografia e ciências naturais.
XI - Extraquadro
Chamamos o que vemos de campo e o que não vemos de fora de campo [extraquadro ou extracampo]. E chamamos o contorno do campo de moldura.
Ao experimentar a visão com uma Janela de Enquadramento podemos observar que, dependendo da amplitude do ângulo de visão que nos é dado ver pela janela, haverá mais ou menos elementos no enquadramento.
Ao desvelar os conceitos de campo e extracampo no enquadramento, a atividade pode ajudar a entender que a fotografia representa apenas uma parte da realidade e desenvolver a imaginação.
Orientações pedagógicas:
Indicado a partir dos 6 anos de idade tem a possibilidade de percepção visual e crítica sobre o ambiente, suas modificações e desafios de preservação. Indicado para o trabalho interdisciplinar com arte, geografia, linguagem e ciências naturais.
XII - Inventário de cores da natureza (vegetais)
Atividade simples de grande poder agregador. Pode ser mediada por educadores e professores de diferentes disciplinas, seja numa escola, comunidade ou como parte de programas de desenvolvimento de projetos ou ações educativas e/ou socias.
Ao propiciar a combinação de saberes locais com a pesquisa científica, esta ferramenta tem potencial para provocar o engajamento intergeracional na dinâmica de busca, identificação e classificação participativa de cada espécie existente nos locais. Classificação baseada, por exemplo, na identificação das propriedades e funções, seja pelo papel no equilíbrio da diversidade ambiental, inclusive de animais, pelo valor nutricional [alimentar], pelas propriedades medicinais ou estética [ornamental].
Orientações pedagógicas:
A atividade pode ser realizada com qualquer faixa etária. A coleta do material deverá ser orientada e o estudante tem a possibilidade de experimentar o contato direto com a natureza, o reconhecimento dos pigmentos naturais e a catalogação das espécies botânicas presentes no território. Indicado para o trabalho interdisciplinar com geografia, biologia, linguagem e arte.
XIII - Tataki Zomé ou Impressão botânica por martelamento
“Tataki-Zomé”, conhecida também como “Hapa-Zomé”, é uma técnica de impressão japonesa muito antiga que consiste na transferência direta de pigmentos vegetais para meios absorventes como tecidos, alguns tipos de papéis e outros que tenham propriedades semelhantes.
Como os nomes indicam – “tataki” quer dizer bater, martelar; “hapa” quer dizer folha; e “zomé” quer dizer tingir – a técnica se baseia na ação de martelar partes de vegetais para liberar e transferir pigmentos diretamente para as fibras de tecidos e alguns tipos de papel para obter a impressão de folhas, flores, raízes etc diretamente para o suporte escolhido. A fixação das cores pode se dar por tratamento do material absorvente: no caso do tecido, por exemplo, proceder banho, prévio ou posterior, em substâncias mordentes [mistura de sal, vinagre, pedra hume, sulfato de ferro, entre outros].
Orientações pedagógicas:
A atividade é indicada para qualquer faixa etária, individual ou em grupo. Auxilia no reconhecimento do território e das espécies presentes no bioma. A técnica de martelamento melhora a coordenação motora fina, fortalece os músculos da mão, desenvolve o foco e a concentração, aumenta a confiança e independência, promove a criatividade e resolução de problemas. É excelente para a fase de alfabetização e letramento e é indicado para o trabalho interdisciplinar nas áreas de geografia, botânica, artes, física e linguagem.
XIV - Fitotipia
Fitotipia é o processo fotográfico baseado na fotossensibilidade dos pigmentos vegetais e consiste na impressão de imagens sobre a superfície da folha de diferentes espécies, utilizando apenas mecanismos naturais relacionados com a reação química dos pigmentos de partes colhidas das plantas.
Orientações pedagógicas:
Indicado para o trabalho com estudantes a partir dos 12 anos. É um processo natural que pode ser realizado com material reciclado e acessível, promove a relação do estudante com a natureza, reconhecendo o poder da luz e processo de utilização da clorofila, promove o redirecionamento do olhar, a aprendizagem sobre fotossíntese e consciência ambiental. Atividade interdisciplinar que deve ser realizada de forma lenta, envolvendo os conhecimentos das arte, biologia, física e química.
XV - Pintura com pigmentos vegetais (coleta, extração e uso de pigmentos vegetais)
Desenho e pintura temática
Orientações pedagógicas:
Pode ser utilizada em qualquer faixa etária. Trabalha a concentração, a relação com a natureza, o conhecimento sobre as cores e extração de pigmentos, explora o conhecimento sobre a natureza e seus benefícios, a conexão com o meio ambiente e pode ser desenvolvido de forma interdisciplinar com as áreas de arte, biologia, química, física e linguagem.
XVI - Pincel de luz
Captar e desenhar com a luz do lugar. Apresentar e propiciar experimentos com o processo fotográfico conhecido como quimigrama, uma técnica de produção de imagens com a aplicação de produtos químicos (reveladores, fixadores) sobre materiais de base fotossensível. Os participantes terão a oportunidade de explorar as possibilidades criativas desse encontro entre fotografia, desenho e pintura, experimentando, portanto, o processo fotográfico através da experiência do desenho e da pintura.
Orientações pedagógicas:
A atividade pode ser desenvolvida em qualquer faixa etária e está voltada para o conhecimento em torno da ancestralidade e da relação com a natureza. Promove a capacidade de observação, imaginação e representação de imagens. Fortalece o vínculo com o território e desenvolve as habilidades motoras. Indicado para o trabalho interdisciplinar com a área da geografia, história, arte e linguagem.
XVII - Os rios e animais voadores - nuvens
A atividade tratar de observar atentamente as nuvens, suas formas e fotografar, imprimir em papel e desenhar com as nuvens e nas nuvens, construindo e registrando narrativas orais e escritas. Abre caminho para falar do ciclo da água, da condensação, das chuvas, dos ventos, dos rios voadores
Orientações pedagógicas:
A atividade pode ser realizada em qualquer faixa etária, desenvolvendo a criatividade, a imaginação e o conhecimento em relação a processos e ciclos da água. Indicado para o trabalho interdisciplinar da área da linguagem, geografia, biologia e química.
XVIII - Linguagem fotográfica - sintaxe das imagens
Este workshop trata dos conceitos e elementos básicos da linguagem fotográfica através de exercícios de seleção e edição de imagens. Os participantes são convidados a exercitar a seleção de um conjunto de imagens e organizá-las de maneira que expresse uma ideia, que tenham sentido. Trata-se de exercitar a sintaxe de colocação de imagens desvelando qualidades conforme a disposição entre elas, seja num mural, numa parede de galeria ou numa publicação impressa ou virtual. Pode-se expandir esse exercício de par com palavras e/ou textos.
Orientações pedagógicas:
A atividade pode ser realizada em qualquer faixa etária. Auxilia na realização de experiência com a ludicidade, a percepção, a expressividade e a imaginação, ressignificando espaços e conceitos. Auxilia no desenvolvimento da oralidade e do pensamento crítico.

